domingo, 30 de junho de 2013

Roda de samba

Estava inquieto. O bar muito cheio e até em sua mesa um tanto de gente desconhecida querendo atenção.

Ele, é claro, preferia estar em outro lugar.

Fazendo qualquer outra coisa.

Até que ela chegou e se juntou às outras que afinavam seus instrumentos e testavam microfones.

Linda, cabelos longos e soltos. Sorriso leve e contagiante.

Prendeu sua atenção de cara.

Achou lugar de frente pra ela e ajeitou-se na cadeira. Uma boa postura sempre causa boa impressão.

Que voz ela tinha. Que voz.

E ele, encantado, parou até de se inquietar. Seguiu sem dar atenção à mesa ou a qualquer outro que não fosse ela.

Pausa na roda de samba.

Ele aproveitou pra ir ao banheiro. Mas não sem avisá-la que voltaria logo, que não deixasse ninguém sentar em seu lugar.

Ela sorriu.

O intervalo foi rápido, mas não tão rápido quanto ele que, hipnotizado, seguiu cantando junto, batendo palmas e acompanhando cada batida sem piscar.

Ela era linda.

E que voz. Que voz.

O pessoal da mesa teve de ir embora e eles seriam sua carona.

Precisava aproveitar aquele momento pra se despedir dela apropriadamente, se fazer notar. Era sua chance, ou procuraria aquela mulher em todas as outras dali pra frente.

Talvez procurasse de qualquer forma.

Respirou fundo.

Aproximou-se de seu rosto e cochichou algo em seu ouvido, com a mão delicadamente apoiada em seu ombro.

Ela sorriu novamente e retribuiu com um delicado beijo na bochecha e um afago em seu cabelo.

Do alto de seus 5 anos, ele se sentiu vitorioso.

Sim, ele provavelmente procuraria aquele sorriso em todas as mulheres dali pra frente.

Mas, naquele momento, ele apenas queria comemorar sua primeira conquista.

Uma mulher mais velha.

Ele correu em direção à família, extasiado.

- Mãe! Mãe! Ela me beijou!


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