terça-feira, 28 de maio de 2013

O beijo

Lá estavam sentados naquela mesa de bar, um de frente pro outro.

Ele deixou que ela escolhesse o prato, ainda não tinham intimidade suficiente pra que soubesse suas preferências. Pediram dois chopps. Sem colarinho, por favor.

A conversa, como de costume, fluia incrivelmente. Ele a fazia rir como ninguém.

Os dois se olhavam como se não houvesse mais ninguém no mundo. Talvez houvesse, mas quem se importava?

Tudo que conseguia pensar era no tal beijo.

O primeiro beijo.

Coisa ridícula, como se nunca tivesse passado por aquilo antes.

Pois era como se nunca tivesse passado por aquilo antes.

Primeiro beijo é coisa complicada, tem toda uma engenharia.

A pressão dos lábios ao se tocarem, o quanto de língua, de saliva, de dente, o básico, os detalhes que fazem aquele beijo ser seu, pessoal e intransferível.

Os corpos, as mãos, toques e respiração.

O primeiro beijo cura uma ansiedade e abre as portas pra outra maior.

Mas uma coisa de cada vez.

Ele falava e ela ouvia pedaços.

Pensava em como a mesa estava no meio do caminho, que ele poderia ter se sentado do seu lado.

Primeiro beijo tem dessas coisas de timing. Que nem acontece naqueles filmes do mocinho arrumar uma desculpa pra passar o braço por trás da mocinha, sabe aquela espreguiçada? Assim.

Precisa ter daquelas manobras, um bom plano ou coisa que o valha.

Ele não parecia ter um plano.

Ou talvez nem estivesse preocupado com isso.

Talvez não quisesse beijá-la.

Mas que droga.

- Vem cá.

Inclinou-se sobre a mesa como quem fosse limpar aquele tiquinho de comida no canto da sua boca.

Era só o que faltava, ter comida espalhada na cara, veja lá se isso era momento pra ter...

E lá estava.

A engenharia perfeita.

O toque, o gosto, as mãos, as bocas, as línguas, os dentes.

O coração disparado.

Afastaram-se um segundo, apenas o espaço de um suspiro.

Abriu ligeiramente os olhos pra ver que ele mantinha os seus fechados enquanto uma das mãos tocava seu rosto e a outra passeava por seu cabelo.

Não havia mais ninguém ali.

Fechou os olhos novamente e, no breve instante em que suas bocas se reaproximaram, ela teve certeza e pensou consigo mesma.

- É. Fudeu.