quarta-feira, 21 de novembro de 2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

(De) Novo

Madalena sentia falta das coisas simples da vida, dos sentimentos leves.

Sempre foi namoradeira, não era a solidão que a incomodava. Era bonita, inteligente, não faltavam homens - e até algumas tantas mulheres - atrás dela.

Mas a vida já tinha sido menos complicada.

Foi logo depois de terminar um relacionamento de quase três anos que percebeu que a rotina a incomodava. Acostumou-se além da conta àquele amor confortável demais, sem poesia, sem surpresa. Ela sabia tudo dele, e ele dela.

Não tinham mais de se conquistar.

Madalena não era mulher de contentar-se com pantufas num dia frio, palavras cruzadas debaixo do cobertor, mais uma conversa sobre a semana cansativa. E só. Ela queria isso, sim. Mas não só.

Ela queria mais. Ela queria paixão.

Precisava de algo que a puxasse.

Empurrasse.

Desafiasse.

Movesse.

Ele ligou pra ela. Pra saber se ela tinha certeza do que estava fazendo, se entendia do que estava abrindo mão.

Ela sabia. Pediu que deixasse suas coisas com o porteiro naquela tarde, já que não estaria em casa.

Madalena sentia falta das coisas simples.

Mas antes precisava sentir-se novamente leve.

Começar de novo, fazer diferente.

Da porta do avião, olhou pra fora, olhou pra baixo.

- Pronta? No 3. 1... 2... 3... HEY! HO!

E lá estava Madalena.

Em queda livre.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Amanhã

- Te quero.

Eram duas da manhã quando o telefone tocou.

- Eu tava dormindo.

- Tava. Isso vai ser melhor que dormir. Acorda.

Verdade. Seria. Ela sabia, mas não queria dar a ele o gostinho de admitir que ficava excitada com o som de sua voz nessas ligações de madrugada. O coração disparava e ela sabia bem que não era paixão.

- Onde você tá?

- Aqui embaixo, abre a porta pra eu subir.

Maldito. Ele sabia bem como ela gostava das preliminares.

- A casa tá...

- Cala a boca, não vim aqui pra ver a decoração do apartamento. Já conheço teu apartamento. O que me interessa tá aqui.

Cretino. Já foi logo botando a mão por baixo de sua camisola, arrancando sua calcinha ainda na sala.

- Shiu, tem gente em casa. Vem pro quarto.

Gostoso. Suas mãos a conheciam como se a tivesse feito só pra ele. Ela sabia que não adiantava resistir. Ali ela deixava todo aquele seu jeito abusado e quase não precisava dizer o que ele deveria fazer.

Quase.

- O que você quer?

- Você sabe? - Ela disse.

- Ainda não.

Deus. Era praticamente impossível pensar quando ele a segurava forte pelo quadril, pouco se importando se as unhas deixariam marcas, enquanto sua língua deixava claro porque ela sempre atendia suas ligações. Ele sabia o que ela queria. Ele sabia.

Ele sabia.

- Vem cá. - Ela convidou ofegante.

Ele sabia que no dia seguinte eles voltariam a ser apenas amigos, mas ali, naquele momento, ela era sua. Pra que pressa?

- Calma. Tá com pressa?

- Não. - Ela mentiu. Não era pressa. Ou talvez fosse. Que diferença fazia?

- Então calma.

Amanhã.

Agora não.

Ainda não.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Parque

Abri a gaveta procurando aquela pulseira de acrílico e achei nossa única foto. Guardei ali pra não ter que olhar como um dia fomos felizes.

Naquele dia fomos impossivelmente felizes.

Lembrei do parque de diversões lotado, das filas intermináveis pelos brinquedos e de comer antes de subir na montanha russa, rebeldia besta.

Você tentando me ganhar o ursinho e eu te dizendo que não tinha problema não ter conseguido, por causa da minha alergia.

Naquele dia você foi ridiculamente romântico.

Foi quando me chamou de amor pela primeira vez, e eu te passei sorvete no nariz, só pra mudar de assunto.

Quem queria falar de amor num parque de diversões?

Ali escolhemos a nossa música, aquela do brinquedo mais chato.

E aí achamos a cabine de fotos. "Querem registrar o dia?", perguntou o moço de cartola e fraque. Nos olhamos e pareceu apenas necessário que tanta alegria ficasse guardada pra sempre de alguma forma.

Quatro cliques. Quatro poses. Uma história.

Naquele dia, fomos um casal.

Não achei a pulseira. Olhei a foto mais um pouco e tudo pareceu tão distante.

Fiquei na dúvida entre rasgar a memória ou guardá-la mais um tempo. Achei melhor deixá-la ali.

Só pra me lembrar de quem você não é.

domingo, 4 de novembro de 2012

Platônico

Marcelo e Catarina não deveriam se apaixonar.

Ela já estava no banco há algum tempo, tinha acabado de mudar de área, muito ainda pra aprender. Ele, novo na casa, a reputação o precedia. Era genial, tinha chegado pra inovar.

Foi bater os olhos em Marcelo pra Catarina se encantar.

Mas eles não podiam se apaixonar.

Ele, recém-saído de um casamento, filho ainda pequeno, a última coisa que precisava era se envolver com uma menina do trabalho. Ela, sempre responsável, jamais misturaria as coisas. Mais ainda com o chefe.

Só que o sorriso de Catarina era difícil de ser ignorado.

Mas eles não queriam se apaixonar.

Pois todo dia, quando chegava, Catarina parava pra cumprimentar Marcelo com um beijo carinhoso no rosto e um abraço mais apertado. E quando ele ia embora, jamais o fazia sem antes se despedir dela.

- Vai pra casa. Dorme bem.

E assim foi entre os dois. Passaram-se os dias, os meses. Eles nunca se apaixonaram, seria inapropriado.

Nunca se apaixonaram, mas se amaram sincera e profundamente em cada chegada e partida.

Como se nada mais houvesse além daqueles breves momentos em que eles estavam nos braços um do outro.